A entrada do segundo milênio trouxe uma efervescente tendência à criação de tratados de cooperação e integração na América Latina. Assim, foram criados a IIRSA (2000), a ALBA (2004), a Unasur (2008), a CELAC (2011) e a Aliança do Pacífico (2011), acordos que em todos os casos outorgaram filiações exclusivamente a países em desenvolvimento. Embora os propósitos originários destes tratados sejam diversos, passando pelo enfoque meramente comercial da Aliança do Pacífico até a concentração político-ideológico da ALBA, estas iniciativas são uma clara mostra da maturidade de uma região que deseja formar seus próprios espaços políticos, comerciais e sociais, cada vez mais independente das economias desenvolvidas. Como toda corrente de troca originada intrinsecamente no “Hemisfério Sul”, essa tendência corporativista tem encontrado um caminho repleto de desafios. Em primeiro lugar, a própria definição de seu modelo de funcionamento. O dilema de replicar o formato da plena integração europeia, como tenta aplicar o Mercosul (1991) e a CAN (1969), ou melhor ainda levantar uma estrutura orientada a impulsionar as relações comerciais, como a ensaiada pela Aliança do Pacífico. Segundo mostra a experiência internacional, estas iniciativas de integração e cooperação regional encontram dificuldades para materializar-se sem um apoio financeiro que facilite a execução de programas macro acordados pelos países. As boas iniciativas para avançar em infraestrutura, agricultura, industrialização, ciência, tecnologia ou inovação requerem um braço financeiro para alcançar seus objetivos. Esses espaços têm sido ocupados por bancos de desenvolvimento multilateral, constituídos para fechar estas brechas financeiras. Assim, surge o Banco de Desenvolvimento para América Latina – CAF com um modelo exitoso e diferenciado de funcionamento. O CAF, como é comumente conhecido na América Latina, foi criado em 1970 como um banco de desenvolvimento para a região andina, mas tem crescido significativamente nas últimas décadas, contando para 2016 com 19 membros, 17 deles do subcontinente latinoamericano. A principal característica da instituição é a não existência de países doadores, quer dizer, as nações acionistas são países mutuários, simultaneamente. Embora esta condição pudesse gerar incentivos perversos na administração da instituição, na CAF foi construída uma governança exitosa entre os países acionistas que evita minar a gestão autônoma da administração. Esta essência latinoamericana da CAF tem sido a chave de seu acelerado crescimento, permitindo acumular um portfólio de 20.759 milhões de dólares e aprovar 12.203 milhões de dólares em 2015, que contribuem para o processo de desenvolvimento da América Latina. A América Latina decidiu se incorporar a corrente integracionista e de cooperação que invade o mundo atual. A região tem uma série de desafios muito importantes pela frente, como a melhora na governabilidade, a facilitação comercial, a conectividade ou o combate à pobreza e à insegurança. Todos estes desafios têm uma conotação transnacional e o aprofundamento do processo integrado será uma via natural para superá-los em um mundo fortemente globalizado. Neste contexto, o CAF tem muito que contribuir, não só financeiramente, considerando a situação econômica adversa da região, mas também na difusão de um modelo de gestão administrativa multilateral eficaz e competitiva.
“A AMÉRICA LATINA SE INCORPORA À CORRENTE INTEGRACIONISTA E DE COOPERAÇÃO QUE INVADE O MUNDO ATUAL”